terça-feira, 19 de abril de 2011

TROVADORISMO/ HUMANISMO/ GIL VICENTE

                                                  TROVADORISMO

Séculos XII a XIV : O trovadorismo e as cantigas de escárnio e maldizer
É o período histórico do trovadorismo e das poesias líricas palacianas. O amor impossível e platônico transforma o trovador num vassalo da mulher amada, exemplo do amor cortês. Neste período, também foi comum o poema satírico, representado pelas cantigas de escárnio (crítica indireta) e de maldizer (crítica direta).
A época do trovadorismo abrange as origens da Língua Portuguesa, a língua galaico-portuguesa (o português arcaico) que compreende o período de 1189 a 1418. Portugal ocupava-se com as Cruzadas, a luta contra os mouros, e estava marcado pelo teocentrismo (universo centrado em Deus, a vida estava voltada para os valores espirituais e a salvação da alma) e pelo sistema feudal (sistema econômico e político, entre senhores e vassalos ou servos), já enfraquecido, em fase de decadência. Quando finalmente a guerra chega ao fim, começam manifestações sociais de período de paz, entre elas a literatura, e em torno dos castelos feudais também desenvolveu-se um tipo de literatura que redimensiona a visão do mundo medieval e aponta para novos caminhos, essa manifestação literária é o Trovadorismo. 
    Os poetas e cronistas dessa época eram chamados de trovadores, pois no norte da França, o poeta recebia o apelativo trouvère (em Português: trovador), cujo radical é: trouver (achar), dizia-se que os poetas “achavam” sua canção e a cantavam acompanhados de instrumentos como a cítara, a viola, a lira ou a harpa. Os poemas produzidos nessa época eram feitos para serem cantados por poetas e músicos.  Os trovadores tinham grande liberdade de expressão, entravam em questões políticas e exerceram destacado papel social. O primeiro texto escrito em português foi criado no século XII (1189 ou 1198) era a “Cantiga da Ribeirinha”, do poeta Paio Soares de Taveirós, dedicada a D. Maria Paes Ribeiro, a Ribeirinha.  As poesias trovadorescas estão reunidas em cancioneiros ou Livros de canções, são três os cancioneiros: Cancioneiro da Ajuda, Cancioneiro da Vaticana e Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa (Colocci-Brancuti), além de um quarto livro de cantigas dedicadas à Virgem Maria pelo rei Afonso X, o Sábio. Surgiram também os textos em prosa de cronistas como Rui de Pina, Fernão Lopes e Eanes de Azuraram e as novelas de cavalaria, como A Demanda do Santo Graal.
 Tipos de Cantiga.
    Os primórdios da literatura galaico-portuguesa foram marcados pelas composições líricas destinadas ao canto.
Essas cantigas dividiam-se em dois tipos:
Refrão, caracterizadas por um estribilho repetido no final de cada estrofe,
Mestria, que era mais trabalhada, sem algo repetitivo.
 Essas eram divididas em temas, que eram: Cantigas de Amor, Amigo e de Escárnio e Maldizer
Mas com o surgimento dos textos em prosa e novelas de cavalaria, houve uma nova “classificação”, que deixou dividido em: 
Lírico Amorosa, subdividida em: cantiga de amor e cantiga de amigo.
 Satírica, de escárnio e maldizer. 
Temas 
Cantiga de Amor
Quem fala no poema é um homem, que se dirige a uma mulher da nobreza, geralmente casada, o amor se torna tema central do texto poético. Esse amor se torna impraticável pela situação da mulher. Segundo o homem, sua amada seria a perfeição e incomparável a nenhuma outra. O homem sofre interiormente, coloca-se em posição de servo da mulher amada. Ele cultiva esse amor em segredo, sem revelar o nome da dama, já que o homem é proibido de falar diretamente sobre seus sentimentos por ela (de acordo com as regras do amor cortês), que nem sabe dos sentimentos amorosos do trovador. Nesse tipo de cantiga há presença de refrão que insiste na idéia central, o enamorado não acha palavras muito variadas, tão intenso e maciço é o sofrimento que o tortura.
São cantigas que espelham a vida na corte através de forte abstração e linguagem refinada.
Cantiga de Amigo
O trovador coloca como personagem central uma mulher da classe popular, procurando expressar o sentimento feminino através de tristes situações da vida amorosa das donzelas. Pela boca do trovador, ela canta a ausência do amigo (amado ou namorado) e desabafa o desgosto de amar e ser abandonada, em razão da guerra ou de outra mulher. Nesse tipo de poema, a moça conversa e desabafa seus sentimentos de amor com a mãe, as amigas, as árvores, as fontes, o mar, os rios, etc. É de caráter narrativo e descritivo e constituem um vivo retrato da vida campestre e do cotidiano das aldeias medievais na região.
Cantigas de escárnio e de maldizer
      Esse tipo de cantiga procurava ridicularizar pessoas e costumes da época com produção satírica e maliciosa.
     As cantigas de escárnio são críticas, utilizando de sarcasmo e ironia, feitas de modo indireto, algumas usam palavras de duplo sentido, para que, não entenda-se o sentido real.
     As de maldizer, utilizam uma linguagem mais vulgar, referindo-se diretamente a suas personagens, com agressividade e com duras palavras, que querem dizer mal e não haverá outro modo de interpretar.
Os temas centrais destas cantigas são as disputas políticas, as questões e ironias que os trovadores se lançam mutuamente. 
As novelas de cavalaria - Surgiram derivadas de canções de gesta e de poemas épicos medievais. Refletiam os ideais da nobreza feudal: o espírito cavalheiresco, a fidelidade, a coragem, o amor servil, mas estavam também impregnadas de elementos da mitologia céltica. A história mais conhecida é A Demanda do Santo Graal, a qual reúne dois elementos fundamentais da Idade Média quando coloca a Cavalaria a serviço da Religiosidade. Outras novelas que também merecem destaque são "José de Arimatéia" e "Amadis de Gaula".
 Autores (Trovadores) 
Os mais conhecidos trovadores foram: João Soares de Paiva, Paio Soares de Taveirós, o rei D. Dinis, João Garcia de Guilhade, Afonso Sanches, João Zorro, Aires Nunes, Nuno Fernandes Torneol.
Mas aqui falaremos apenas sobre alguns.
 Paio Soares Taveirós
Paio Soares Taveiroos (ou Taveirós) era um trovador da primeira metade do século XIII. De origem nobre, é o autor da Cantiga de Amor A Ribeirinha, considerada a primeira obra em língua galaico-portuguesa. 
D. Dinis

Dom Dinis, o Trovador, foi um rei importante para Portugal, sua lírica foi de 139 cantigas, a maioria de amor, apresentando alto domínio técnico e lirismo, tendo renovado a cultura numa época em que ela estava em decadência em terras ibéricas.  
D. Afonso X

D. Afonso X, o Sábio, foi rei de Leão e Castela. É considerado o grande renovador da cultura peninsular na segunda metade do século XIII. Acolheu na sua corte e trovadores, tendo ele próprio escrito um grande número de composições em galaico-português que ficaram conhecidas como Cantigas de Santa Maria. Promoveu, além da poesia, a historiografia, a astronomia e o direito, tendo elaborado a General Historia, a Crônica de España, Libro de los Juegos, Las Siete Partidas, Fuero Real, Libros del Saber de Astronomia, entre outras.
 D. Duarte
D. Duarte foi o décimo primeiro rei de Portugal e o segundo da segunda dinastia. D. Duarte foi um rei dado às letras, tendo feito a tradução de autores latinos e italianos e organizando uma importante biblioteca particular. Ele próprio nas suas obras mostra conhecimento dos autores latinos.
Obras: Livro dos Conselhos; Leal Conselheiro; Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda a Sela
Fernão Lopes

Fernão Lopes é considerado o maior historiógrafo de língua portuguesa, aliando a investigação à preocupação pela busca da verdade. D. Duarte concedeu-lhe uma tença anual para ele se dedicar à investigação da história do reino, devendo redigir uma Crônica Geral do Reino de Portugal. Correu a província a buscar informações, informações estas que depois lhe serviram para escrever as várias crônicas (Crônica de D. Pedro I, Crônica de D. Fernando, Crônica de D. João I, Crônica de Cinco Reis de Portugal e Crônicas dos Sete Primeiros Reis de Portugal). Foi “guardador das escrituras” da Torre do Tombo.
 Frei João Álvares
Frei João Álvares a pedido do Infante D. Henrique, escreveu a Crônica do Infante Santo D. Fernando. Nomeado abade do mosteiro de Paço de Sousa, dedicou-se à tradução de algumas obras pias: Regra de São Bento, os Sermões aos Irmãos do Ermo atribuídos a Santo Agostinho e o livro I da Imitação de Cristo.
 Gomes Eanes de Zurara
Gomes Eanes de Zurara, filho de João Eanes de Zurara. Teve a seu cargo a guarda da livraria real, obtendo em 1454 o cargo de “cronista-mor” da Torre do Tombo, sucedendo assim a Fernão Lopes. Das crônicas que escreveu destacam-se: Crônica da Tomada de Ceuta, Crônica do Conde D. Pedro de Meneses, Crônica do Conde D. Duarte de Meneses e Crônica do Descobrimento e Conquista de Guiné.
Algumas cantigas:
CANTIGA DE AMOR

No mundo non me sei parelha,
Mentre me for’como me vay
Ca já moiro por vos – e ay!
Mia senhor branca e vermelha,
Queredes que vos retraya
Quando vus eu vi em saya!
Mao dia me levantei,
Que vus enton non vi fea!
E, mia senhor, des aquel di’ ay!
Me foi a mi muyn mal,
E vos, filha de don Paay
Moniz, e bemvus semelha
D’aver eu por vos guarvaya
Pois eu, mia senhor d’alfaya
Nunca de vos ouve, nem ei
Valia d’ua correa.

CANTIGA DE AMIGO

- Ai flores, ai flores do verde pino,
Se sabedes novas do meu amigo?
Ai, Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
Se sabedes novas do meu amado?
Ai, Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo, Aquel que mentiu do que pôs comigo?
Ai, Deus, e u é?

  CANTIGA DE MALDIZER
Conheceis uma donzela
Por quem trovei e a que um dia
Chamei dona Berinjela?
Nunca tamanha porfia
Vi nem mais disparatada.
Agora que está casada
Chamam-lhe Dona Maria.
Algo me traz enojado,
Assim o céu me defenda:
Um que está a bom recato
(negra morte o surpreenda
e o Demônio cedo o tome!)
quis chamá-la pelo nome
e chamou-lhe Dona Ousenda.
Pois que se tem por formosa
Quanto mais achar-se pode,
Pela Virgem gloriosa!
Um homem que cheira a bode
E cedo morra na forca
Quando lhe cerrava a boca
Chamou-lhe Dona Gondrode.

HUMANISMO
Séculos XIV a XV : Humanismo
O homem passa a ser mais valorizado com o início do humanismo renascentista. A literatura mantém características religiosas, mas nela já se podem ver características que serão desenvolvidas no Renascimento, como a retomada de ideais da cultura greco-romana. Na Itália, podemos destacar: Dante Alighieri autor da Divina Comédia, Giovanni Bocaccio e Francesco Petrarca. Em Portugal, destaca-se o teatro do poeta de Gil Vicente autor de A Farsa de Inês Pereira.
Gil Vicente
Antecedentes do teatro Gil Vicentino

As encenações litúrgicas:

No período da Idade Média, sumiu o teatro greco-romano. Todas as comédias e tragédias, que demonstravam desde o sublime ao grotesco, a compacta visão clássica do homem, e do mundo aos deuses, foram todas ignoradas.

Não podemos considerar chamar de teatro medieval, pois todas as cenas que eram feitas em Portugal, bem antes de Gil Vicente, não apresentavam um texto escrito, ou seja, não apresentavam uma produção literária vinda de uma natureza dramática. Todas as representações cênicas existentes naquela época eram figurativas. Portanto podemos concluir que não havia um texto dramático, o que é mais interessante para a literatura.

Com o apoio tanto da Igreja Católica como da visão teocêntrica do mundo, podemos dizer que o teatro medieval foi praticamente um teatro litúrgico, juntando todos os ritos, o culto da religião católica e todas as celebrações, é importante sabermos que essa essas formas dramáticas, não tinham registros literários, pois elas eram encenações que eram realizadas nas abadias e igrejas, por certas ocasiões como:

• Natal;
• Páscoa;
• Corpus Christi.


Essas encenações eram sob algumas formas de jogos, autos e representações, onde havia reis magos e pastores adorando o Presépio, apóstolos, figuras alegóricas de anjos e demônios e os santos.

Destacam-se algumas encenações litúrgicas dentre as modalidades dessas encenações. Vejamos quais são essas encenações:

1. Os mistérios: relatos da vida de Jesus Cristo que eram tirados do Novo Testamento e também das passagens do Antigo Testamento que eram chamados de prefigurações do advento de Cristo.

2. Os milagres: representava a vida de todos os santos, dos apóstolos ou das intervenções miraculosas da Virgem Maria.

3. As moralidades: eram representações mais curtas que mostravam, ou melhor, que no final de cada uma delas havia um final moralizante e/ou didático.

As encenações profanas:

As encenações teatrais desenvolvidas na Idade Média que estavam fora do tempo religioso recebiam o nome de Profanas, eram tidos como mais populares e que não tinham relações nenhuma com o catolicismo. Associadas as festas populares limitavam-se a personagens de novelas de cavalaria, imitações de pessoas satirizando-as (arremedilhos), atores com máscaras, encenando sem palavras, somente com o corpo (pantomimas legóricas).

Existiam alguns tipos de encenações, dentre elas vejamos:

• As Farsas: era o nome dado às encenações satíricas populares, que tinha como “apoio” o aspecto cômico, situações ridículas e absurdas, como erros e deformações caricaturescas. Todas as farsas são mais dependentes da ação e dos aspectos externos, do que de todos os diálogos e conflitos dramáticos.

• As soties: a palavra sotie em Francês quer dizer tolo, elas são consideradas representações jocosas, parecidas com as farsas, porém com uma intenção critica, englobando tanto os protagonistas parvos, como os tolos.

• Os momos: eram representações mascaradas de pessoas e animais, que usavam além da fala, a mímica.

• Os entremezes: eram breves encenações que serviam para serem “passadas” no Intervalo de outra peça, continuou até o século XIX e começou a ser comum até o teatro do Romantismo.

• Os sermões burlescos: era um monólogo (dizer de si para si) que era recitado pelos jograis mascarados, que vestiam tanto roupas sacerdotais, como algumas farsas a respeito das farsas das histórias de clérigos e Freitas, realizando imitações jocosas de ações religiosas, como por exemplo, ladainhas e sermões.

• Os autos pastoris ou éclogas: eram conversas entre pastores que tinham um único sentimento terno e o um objetivo que era de voltar para suas origens.



Projeções do teatro gilvicentino

Gil Vicente foi o 1º que fez com que Portugal, em suas encenações, usasse o texto, e também foi um dos maiores poetas da época e um dos autores mais originais do Quinhentismo europeu. Gil Vicente foi tido pelos espanhóis como um dos maiores autores que escreveu em Língua Castelhana, como um dos iniciadores da altíssima poesia dramática de vários outros autores.
Pouco se sabe sobre a vida de Gil Vicente, autor de Auto da Barca do Inferno. Ele teria nascido por volta de 1465, em Guimarães ou em outro lugar na região da Beira. Casado duas vezes, teve cinco filhos, incluindo Paula e Luís Vicente, que organizou a primeira compilação das suas obras.

No início do século 16, há referência a um Gil Vicente na corte, participando dos torneios poéticos. Em documentos da época, aparece outro Gil Vicente, ourives, a quem é atribuída a Custódia de Belém (1506), recipiente para exposição de hóstias feita com mais de 500 peças de ouro puro. Há ainda mais um Gil Vicente que foi "mestre da balança" da Casa da Moeda. Alguns autores defendem, sem provas, que os três seriam a mesma pessoa, embora a identificação do dramaturgo com o ourives seja mais viável, dada a abundância de termos técnicos de ourivesaria nos seus autos.

Ao longo de mais de três décadas, Gil Vicente foi um dos principais animadores dos serões da corte, escrevendo, encenando e até representando mais de quarenta autos. O primeiro deles, o "Monólogo do Vaqueiro" (ou "Auto da Visitação"), data de 1502 e foi escrito e representado pelo próprio Gil Vicente na câmara da rainha, para comemorar o nascimento do príncipe dom João, futuro rei dom João 3o. O último, "Floresta de Enganos", foi escrito em 1536, ano que se presume seja o da sua morte.

O "Auto da Sibila Cassandra", escrito em 1513, introduz os deuses pagãos na trama e por isso é considerado por alguns como o marco inicial do Renascimento em Portugal.

Alguns dos autos foram impressos sob a forma de folhetos e a primeira edição do conjunto das obras foi feita em 1562, organizada por Luís Vicente. Dessa primeira compilação não constam três dos autos escritos por Gil Vicente, provavelmente por terem sido proibidos pela Inquisição. Aliás, o índice dos livros proibidos, de 1551, incluía sete obras do autor.

Gil Vicente foi considerado um autor de transição entre a Idade Média e o Renascimento. A estrutura das suas peças e muitos dos temas tratados foram desenvolvidos a partir do teatro medieval, defendendo, por exemplo, valores religiosos. No entanto, alguns apontam já para uma concepção humanista, assumindo posições críticas.

Em 1531, em carta ao rei, Gil Vicente defendeu os cristãos-novos, a quem tinha sido atribuída a responsabilidade pelo terremoto de Santarém. Também no "Auto da Índia" apresentou uma visão antiépica da expansão ultramarina.

Gil Vicente classificou suas peças dividindo-as em três grupos: obras de devoção, farsas e comédias. Seu filho, Luís Vicente acrescentou um quarto gênero, a tragicomédia.

Estudiosos recentes preferem considerar os seguintes tipos: autos de moralidade, autos cavaleirescos e pastoris, farsas, e alegorias de temas profanos. No entanto, é preciso lembrar que, por vezes, na mesma peça encontramos elementos característicos de vários desses gêneros.

Gil Vicente vai muito além daquilo que, antes dele, se fazia em Portugal. Revela um gênio dramático capaz de encontrar soluções técnicas à medida das necessidades. Nesse sentido, ele pode ser encarado como o verdadeiro criador do teatro nacional.

Por outro lado, a dimensão e a riqueza da sua obra constituem um retrato vivo da sociedade portuguesa, nas primeiras décadas do século 16, onde estão presentes todas as classes sociais, com os seus traços específicos, seus vícios e suas preocupações. Também no aspecto lingüístico o valor documental da sua obra é inestimável e constitui uma grande fonte de informação sobre o início do século 16 em Portugal.

domingo, 17 de abril de 2011

VALEU PESSOAL COL. SANTA TERESA!!! IDA AO TEATRO FOI BACANA!!!

                                         DOM CASMURRO - 12/04/2011

FIGURAS DE SINTAXE (REVISÃO PRIMEIRO ANO ENSINO MÉDIO)

As figuras de sintaxe ou de construção dizem respeito a desvios em relação à concordância entre os termos da oração, sua ordem, possíveis repetições ou omissões.

Elas podem ser construídas por:
a) omissão: assíndeto, elipse e zeugma;
b) repetição: anáfora, pleonasmo e polissíndeto;
c) inversão: anástrofe, hipérbato, sínquise e hipálage;
d) ruptura: anacoluto;
e) concordância ideológica: silepse.

Portanto, são figuras de construção ou sintaxe:

Assíndeto:
Ocorre assíndeto quando orações ou palavras deveriam vir ligadas por conjunções coordenativas, aparecem justapostas ou separadas por vírgulas.
Exigem do leitor atenção maior no exame de cada fato, por exigência das pausas rítmicas (vírgulas).
Exemplo: "Não nos movemos, as mãos é que se estenderam pouco a pouco, todas quatro, pegando-se, apertando-se, fundindo-se." (Machado de Assis).
Elipse:
Ocorre elipse quando omitimos um termo ou oração que facilmente podemos identificar ou subentender no contexto. Pode ocorrer na supressão de pronomes, conjunções, preposições ou verbos. É um poderoso recurso de concisão e dinamismo.
Exemplo: "Veio sem pinturas, em vestido leve, sandálias coloridas." (elipse do pronome ela (Ela veio) e da preposição de (de sandálias...).
Zeugma:
Ocorre zeugma quando um termo já expresso na frase é suprimido, ficando subentendida sua repetição.
Exemplo: "Foi saqueada a vida, e assassinados os partidários dos Felipes." (Zeugma do verbo: "e foram assassinados...") (Camilo Castelo Branco).
Anáfora:
Ocorre anáfora quando há repetição intencional de palavras no início de um período, frase ou verso.
Exemplo: "Depois o areal extenso... / Depois o oceano de pó... / Depois no horizonte imenso / Desertos... desertos só..." (Castro Alves).
Pleonasmo:
Ocorre pleonasmo quando há repetição da mesma idéia, isto é, redundância de significado.
a) Pleonasmo literário:
É o uso de palavras redundantes para reforçar uma idéia, tanto do ponto de vista semântico quanto do ponto de vista sintático. Usado como um recurso estilístico, enriquece a expressão, dando ênfase à mensagem.
Exemplo: "Iam vinte anos desde aquele dia / Quando com os olhos eu quis ver de perto / Quando em visão com os da saudade via." (Alberto de Oliveira).
"Morrerás morte vil na mão de um forte." (Gonçalves Dias)
"Ó mar salgado, quando do teu sal / São lágrimas de Portugal" (Fernando Pessoa).
b) Pleonasmo vicioso:
É o desdobramento de idéias que já estavam implícitas em palavras anteriormente expressas. Pleonasmos viciosos devem ser evitados, pois não têm valor de reforço de uma idéia, sendo apenas fruto do descobrimento do sentido real das palavras.
Exemplos: subir para cima / entrar para dentro / repetir de novo / ouvir com os ouvidos / hemorragia de sangue / monopólio exclusivo / breve alocução / principal protagonista.
Polissíndeto:
Ocorre polissíndeto quando há repetição enfática de uma conjunção coordenativa mais vezes do que exige a norma gramatical (geralmente a conjunção e). É um recurso que sugere movimentos ininterruptos ou vertiginosos.
Exemplo: "Vão chegando as burguesinhas pobres, / e as criadas das burguesinhas ricas / e as mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza." (Manuel Bandeira).
Anástrofe:
Ocorre anástrofe quando há uma simples inversão de palavras vizinhas (determinante/determinado).
Exemplo: "Tão leve estou (estou tão leve) que nem sombra tenho." (Mário Quintana).
Hipérbato:
Ocorre hipérbato quando há uma inversão completa de membros da frase.
Exemplo: "Passeiam à tarde, as belas na Avenida. " (As belas passeiam na Avenida à tarde.) (Carlos Drummond de Andrade).
Sínquise:
Ocorre sínquise quando há uma inversão violenta de distantes partes da frase. É um hipérbato exagerado.
Exemplo: "A grita se alevanta ao Céu, da gente. " (A grita da gente se alevanta ao Céu ) (Camões).
Hipálage:
Ocorre hipálage quando há inversão da posição do adjetivo: uma qualidade que pertence a um objeto é atribuída a outro, na mesma frase.
Exemplo: "... as lojas loquazes dos barbeiros." (as lojas dos barbeiros loquazes.) (Eça de Queiros).
Anacoluto:
Ocorre anacoluto quando há interrupção do plano sintático com que se inicia a frase, alterando-lhe a seqüência lógica. A construção do período deixa um ou mais termos - que não apresentam função sintática definida - desprendidos dos demais, geralmente depois de uma pausa sensível.
Exemplo: "Essas empregadas de hoje, não se pode confiar nelas." (Alcântara Machado).
Silepse:
Ocorre silepse quando a concordância não é feita com as palavras, mas com a idéia a elas associada.
a) Silepse de gênero:
Ocorre quando há discordância entre os gêneros gramaticais (feminino ou masculino).
Exemplo: "Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito." (Guimarães Rosa).
b) Silepse de número:
Ocorre quando há discordância envolvendo o número gramatical (singular ou plural).
Exemplo: Corria gente de todos lados, e gritavam." (Mário Barreto).
c) Silepse de pessoa:
Ocorre quando há discordância entre o sujeito expresso e a pessoa verbal: o sujeito que fala ou escreve se inclui no sujeito enunciado.
Exemplo: "Na noite seguinte estávamos reunidas algumas pessoas." (Machado de Assis).

FIGURAS DE PALAVRAS (REVISÃO PRIMEIRO ANO ENSINO MÉDIO)

Também chamadas de figuras de semântica, são formas de expressar o pensamento ou os sentimentos de modo vivo, enérgico, vibrante, capaz de impressionar o ouvinte ou leitor, escapando ao uso corriqueiro que se faz das palavras e da língua.

1. Antonomásia: substituição de um nome próprio por um atributo ou qualidade que lhe diz respeito - e vice-versa:
Já quiseram os Deuses que tivesse
O filho de Filipe, nesta parte,
Tanto poder que tudo submetesse
Debaixo do seu jugo o fero Marte.
(Camões)
[No caso, "filho de Filipe" refere-se a Alexandre Magno.]

Observação: é também por antonomásia que a tradição literária e histórica concede títulos específicos a alguns homens célebres: Águia de Haia (Rui Barbosa); Boca do Inferno (Gregório de Matos); Poeta das Estrelas (Olavo Bilac) etc.

2. Metonímia: emprego de um termo por outro, através de uma relação de dependência, que pode ser da causa pelo efeito, da parte pelo todo, do conteúdo pelo continente, da obra pelo autor, da causa pela consequência etc., e vice-versa:
a) o efeito pela causa:
As cãs inspiram respeito (em vez de a velhice).
b) o autor pela obra:
Ler Machado de Assis.
c) o continente pelo conteúdo:
Tomar uma garrafa (de vinho).
d) a parte pelo todo:
Completou quinze primaveras (por anos).
e) o singular pelo plural:
A mulher tem sempre rara intuição (por as mulheres).
f) a característica pelo produto:
"(Um homem) trazia um ferro na mão gotejando vermelho, uma faca de lâmina estreita ou um punhal" (Raul Pompeia). [No caso, vermelho = sangue.]

3. Sinédoque: na prática, confunde-se com a metonímia. Tal semelhança, inclusive, é objeto de discussão entre os gramáticos. Seria uma metonímia baseada na relação quantitativa entre o significado original da palavra usada e o conteúdo ou referente imaginado:
Braços para a lavoura (Onde "braços" substitui "homens" ou "trabalhadores").

4. Metáfora: é o mais expressivo elemento em que se apoia a linguagem figurada. Trata-se da principal figura semântica, da qual as outras figuras podem aproximar-se, ou confundir-se com ela. Consiste na transferência de um termo para uma esfera de significação que não é a sua, em virtude de uma comparação implícita. Em outras palavras, é o deslocamento de um termo, ou de uma expressão, de sua área de significado normal para outra, processo de que resulta a produção de um efeito estético em que se faz presente o binômio denotação/conotação:
Perdi a chave do apartamento. [sentido denotativo]
Percebemos, enfim, a chave do problema. [sentido conotativo ou metafórico]
"No dia seguinte, acordamos debaixo de um temporal [...]. Enfim a tempestade amainou. Confesso que foi uma diversão excelente à tempestade do meu coração." (Machado de Assis)

A metáfora pode ser caracterizada ainda pelas seguintes figuras:

4.1. Catacrese: é a metáfora mais comum, estereotipada, que resulta da ausência de um termo próprio para designar determinada coisa: pernas da mesa, cabeça de alfinete etc.

4.2. Personificação (ou animismo): atribuição a seres inanimados de ações, qualidades ou sentimentos próprios do homem:
"[...] o sol, no poente, abre tapeçarias..." (Cruz e Souza)

4.3. Hipérbole: figura do exagero; tem por fundamento a paixão, que leva o escritor ou o falante a deformar a realidade, glorificando-a ou amesquinhando-a segundo seu modo particular de sentir:
"Eu, somente eu, com a minha dor enorme,
Os olhos ensanguento na vigília!"
(Augusto dos Anjos)

4.4. Símbolo: é a metáfora que ocorre quando o nome de um ser ou coisa concreta assume valor convencional, abstrato:
Ele hesita entre a cruz [o cristianismo ou as virtudes cristãs] e os prazeres da vida.

4.5. Sinestesia: interpenetração de planos sensoriais. Fundem-se sensações visuais com auditivas, gustativas, olfativas, tácteis, num amálgama de efeitos expressivos:
"Por uma única janela envidraçada, [...] entravam claridades cinzentas e surdas, sem sombras." (Clarice Lispector)

Fontes
Figuras de estilo, José Geraldo Pires-de-Mello, Editora Rideel/Centro Universitário de Brasília - UniCEUB, 2ª edição, São Paulo, 2001.
Gramática normativa da língua portuguesa, Rocha Lima, José Olympio Editora, 34ª edição, 1997.

INTERTEXTUALIDADE

A expressão intertextualidade se refere, basicamente, à influência de um texto sobre outro. Na verdade, em diferentes graus, todo texto é um intertexto, pois, ao escrever, estabelecemos um diálogo - às vezes inconsciente, às vezes não - com tudo o que já foi escrito. Assim, cada texto é como um elo na corrente de produções verbais; cada texto retoma textos anteriores, reafirmando uns e contestando outros.

Quando a intertextualidade é intencional, ela pode se manifestar em diferentes níveis. Vejamos cada um deles:

  • Epígrafe: é um fragmento de texto que serve de lema ou divisa de uma obra, capítulo, ou poema. Costuma existir um vínculo entre a epígrafe e o texto que vem abaixo dela; nesses casos, a epígrafe dá apoio temático ao texto - ou resume o sentido, a motivação dele. Massaud Moisés observa que o exame atento das epígrafes pode "nos fornecer uma ideia da doutrina básica de um poeta ou romancista, o seu nível intelectual etc.".

  • Citação: é a frase ou passagem de certa obra que um autor reproduz (com indicação do autor original) como complementação, exemplo, ilustração, reforço ou abonação daquilo que ele pretende dizer ou demonstrar.

  • Alusão: é toda referência, direta ou indireta, propositada ou casual, a certa obra, personagem, situação etc., pertencente ao mundo literário, artístico, mitológico etc. No geral, a alusão insere a obra que a contém numa tradição comum julgada digna de preservar-se. Camões, por exemplo, ao dizer, em Os Lusíadas, "cessem do sábio Grego e do Troiano / As navegações grandes que fizeram", alude a Ulisses (herói da Odisseia) e Eneias (herói da Eneida).

  • Paráfrase: é a interpretação, explicação ou nova apresentação de um texto (ou parte dele) com o objetivo de ou torná-lo mais inteligível ou sugerir um novo enfoque para o seu sentido. Veja, por exemplo, o poema abaixo, de Carlos Drummond de Andrade, no qual o poeta parafraseia o poema "Canção do Exílio", de Gonçalves Dias:

    Europa, França e Bahia

    Meus olhos brasileiros sonhando exotismos.
    Paris. A torre Eiffel alastrada de antenas como um caranguejo.
    Os cais bolorentos de livros judeus
    e a água suja do Sena escorrendo sabedoria.

    O pulo da Mancha num segundo,
    Meus olhos espiam olhos ingleses vigilantes nas docas.
    Tarifas bancos fábricas trustes craques.
    Milhões de dorsos agachados em colônias longínquas
    [formam um tapete para Sua Graciosa Majestade Britânica pisar. E a lua de Londres como um remorso.

    [...]

    Chega!
    Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.
    Como era mesmo a "Canção do Exílio"?
    Eu tão esquecido de minha terra...
    Ai terra que tem palmeiras
    onde canta o sabiá!

  • Paródia: trata-se de uma composição literária que imita, cômica ou satiricamente, o tema ou/e a forma de uma obra séria. O intuito da paródia consiste em ridicularizar uma tendência ou um estilo que, por qualquer motivo, se torna conhecido ou dominante. Como exemplo, o poema "Canto de Regresso à Pátria", de Oswald de Andrade, que parodia a "Canção do Exílio", de Gonçalves Dias:

    Minha terra tem palmares
    Onde gorjeia o mar
    Os passarinhos daqui
    Não cantam como os de lá

    Minha terra tem mais rosas
    E quase que mais amores
    Minha terra tem mais ouro
    Minha terra tem mais terra

    Ouro terra amor e rosas
    Eu quero tudo de lá
    Não permita Deus que eu morra
    Sem que volte para lá

    Não permita Deus que eu morra
    Sem que volte pra São Paulo
    Sem que veja a Rua 15
    E o progresso de São Paulo

  • Tradução: traduzir consiste em passar um texto (ou parte dele) escrito numa determinada língua para o equivalente em outra língua. Na opinião de alguns estudiosos, a tradução pode ser estudada no âmbito da intertextualidade, pois é uma forma de recriação a partir de um texto-fonte.

  • Pasticho (ou pastiche): imitação servil e grosseira de uma obra literária.

    Fonte
    Dicionário de termos literários, Massaud Moisés, Editora Cultrix, 7ª edição, SP.